segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Arte engajada

Arte engajada
Mostra do Memorial Getúlio Vargas faz ponte entre artistas e política
Retrato do líder de esquerda Luís Carlos Prestes, por Oscar Niemeyer
Retrato do líder de esquerda Luís Carlos Prestes, por Oscar Niemeyer  (Foto: Divulgação )


Para Cândido Portinari, não existe uma arte neutra. "Mesmo sem nenhuma intenção do pintor, o quadro indica sempre um sentido social", defendia.  A mostra Arte & Política: Enfrentamentos, Combates e Resistências, que inaugura terça-feira, 14/05, no Memorial Getúlio Vargas, chega para reforçar essa visão.  Artistas de diferentes gerações, cada um a sua maneira e uns com mais peso que outros, usaram e seguem usando a arte como instrumento de discurso político.

"Quando você diz que não toma atitude política, essa atitude já é política. Claro que não existe uma arte neutra, você se posiciona ? e isso não quer dizer que tal posicionamento seja necessariamente planfetário ou óbvio. Um dos artistas que talvez tenha sido o mais político de todos foi o francês Marcel Duchamp, um artista conceitual", diz o curador Marcus Lontra. Para a exposição do Memorial Getúlio Vargas, foram escolhidos três momentos históricos, cada um com uma forte presença do ora "ditador", ora "pai dos trabalhadores", que mostram também a variedade de formas que o posicionamento político pode tomar nas artes.

A primeira é a década de 30, período em que Vargas chega ao poder pela primeira vez e instaura o Estado Novo (de 1937 a 1945). Nessa fase, era forte o movimento modernista, que buscava a afirmação da identidade nacional através da arte. Artistas como Di Cavalcanti, Lasar Segall e Cândido Portinari pintaram, então, o Nordeste, nossas mulatas, o trabalhador da terra, o samba e nossos problemas sociais. Portinari e Cavalcanti, ambos filiados ao Partido Comunista, são símbolos da influência da política na arte naquele período.

O próximo recorte são os anos 50, quando Getúlio retorna à presidência, dessa vez eleito democraticamente. "Nesse período, a questão nazista é muito forte, e com a guerra e a bomba atômica o mundo é outro, e a produção artística também", continua o curador. Oscar Niemeyer, sempre um defensor fervoroso do ideário comunista, é um dos símbolos desse momento. Na exposição, uma série de desenhos inéditos e uma réplica da mão aberta, projetada por Niemeyer e posta em frente ao Memorial da América Latina (em São Paulo), são alguns dos trabalhos expostos do arquiteto que dizia que é na rua, protestando, "que a gente transforma o país".

Por fim, chegamos aos anos 70, em que, em meio à ditadura militar, a presença de Getúlio Vargas é apenas sugerida. "O golpe de 64 foi a vitória dos inimigos de Vargas, que no entanto se manteve presente, com a resistência trabalhista nos anos de ditadura. Quando esse período acaba, o governador eleito do Rio é Brizola e o presidente, Tancredo Neves, ambos ministros durante o governo Vargas. A redemocratização do Brasil é uma volta da história varguista ao país", considera Marcus Lontra. A repressão militar abre caminho para uma arte contestadora, muitas vezes transgressora e radical. Hélio Oiticica, com seu lema "seja marginal, seja herói", é um dos maiores nomes do período, época em que surgiram também Rubens Gerchman, Carlos Sciliar, entre outros.

Para Marcus Lontra, a exposição é uma forma de, mesmo resumidamente, passar por várias fases da arte moderna e contemporânea, e perceber também as mudanças no engajamento político com o avançar dos anos. "A questão política no mundo de hoje é diferente, já não é mais o engajamento de esquerda contra direita, mas sim em questões mais específicas, como, por exemplo, uma luta pela ecologia, pelas defesas das minorias culturais, étnicas e sexuais. Mas são todas maneiras de agir politicamente, e que continuarão sempre presentes".

Fonte: http://www.cultura.rj.gov.br/materias/arte-engajada
Aluno: Isaac Freitas

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